terça-feira, 16 de março de 2010

Em Evidência - Paralisia facial

Esta Em Evidência vai ser mais particular, já que hoje minha paralisia está completando um aninho! Por isso, decidi fazer um “post de serviço”, mas bem enxuto porque o tempo ta curtinho. Não fiz nenhuma pesquisa especial pra este post, mas, um ano atrás, estava desesperado procurando saber tudo sobre a doença, e é a informação de que me lembro que estou compartilhando aqui.

Existem 2 tipos de paralisia facial: a central (que geralmente atinge a face simetricamente) e a periférica (que ocorre apenas em um dos lados – no meu caso, o lado esquerdo). A primeira é, via de regra, resultado de alguma pancada ou derrame, enquanto a segunda é idiopática, ou seja, nem sempre é possível determinar com clareza sua causa. Meu exemplo ilustra bem essa situação: no dia anterior, saí de uma faringite, passei de um ambiente muito frio pra um muito quente e estava bastante estressado por estar procurando emprego. Como as três principais causas da doença são choque térmico, estresse e doença virótica/bacteriana, fica impossível dizer a causa exata, ou até mesmo se foi uma combinação entre elas.

A paralisia facial periférica, ou paralisia de Bell, é um mal que atinge 1 em casa 3.000 pessoas no mundo, aproximadamente. Consiste em um inchaço no nervo facial que, sem espaço, fica comprimido pelo crânio, perdendo a bainha de mielina (responsável pela condução de impulsos nervosos) e, consequentemente, tornando-se afuncional. Como temos um nervo facial para cada lado do rosto, a paralisia de um lado não afeta o outro. A maioria dos casos se resolve em um tempo aproximado de 1 mês, mas os casos mais graves podem durar de 1 a 2 anos. Cerca de 30% dos casos apresentam sequelas da doença após a recuperação.


O primeiro dia é muito complicado. Você acorda percebendo que sua movimentação do rosto está diferente, estranha. Quando se olha no espelho, nota uma leve diferença, pensa que talvez seja um princípio de terçol ou algo parecido. Ao longo do dia, os movimentos vão ficando mais difíceis, até que em algum momento você simplesmente não consegue mais picar o olho e constata a completa paralisia de um dos lados do rosto. Isso foi o que ocorreu comigo, mas há relatos de pessoas que já acordaram completamente paralisadas. Isso pode ocorrer com qualquer um e não há, atualmente, como prever quem está mais ou menos propenso à doença, se é que existe essa diferença.

É impossível não se desesperar nesse momento. Teria eu tido um derrame à noite? Será que vou ficar bem? Será um problema simples, ou um tumor no cérebro? Será que vou precisar de operação? Será que vou morrer? Tudo isso se passa pela cabeça da gente e, em um primeiro momento, você precisa de conforto, de um abraço da sua família, amigos, enfim, de quem você ame realmente. Passado esse momento, você percebe que precisa se informar. Digita, então, a expressão “paralisia facial” entre aspas, no Google (mesmo sem saber que isso realmente é o nome de uma doença). É então que tudo fica claro e que você percebe que precisa procurar um neurologista.

Além da fedorenta (mas inofensiva) vitamina B12, será receitado um corticóide, que te fará engordar uns 10 quilos ou mais. Fisioterapia durante todos os dias é essencial. No início, não há problema, mas depois você vai vendo o trabalho que dá ficar por conta de exercícios diários (inclusive pelo tempo que isso toma). Com o tempo, você vai aprendendo a fazer os exercícios sozinho, o que não é o ideal, mas quebra o galho pra quem não tem tempo ou dinheiro pra manter um tratamento muito longo.

Os primeiros movimentos recuperados são inesquecíveis. É emocionante você ver que, ainda que leve, voltou a ter a capacidade de esboçar um sorriso. Foi, até hoje, um dos momentos mais emocionantes da minha vida.

O problema é que a recuperação dos movimentos, depois de tanto tempo descoordenados, traz com ela algo muito sério chamado sincinesia (sin = junto, cinesia = movimento), ou fenômeno de Marcos Gunn, nome dado ao problema quando acontece isoladamente da paralisia. Ou seja, você vai tentar abrir sua boca, e o olho fecha, você vai tentar mexer a sobrancelha e a boca vai junto, etc. É um problema sério, que precisa ser resolvido, pois é uma das grandes seqüelas deixadas pela doença.


Até o momento, recuperei aproximadamente 70% dos movimentos do rosto que havia perdido, e estou lutando contra a sincinesia. Dizer que acredito que vá ficar sem sequelas, depois de 1 ano, não seria muito sincero, mas gostaria muito de tentar alcançar isso.

O mais importante durante o tratamento de paralisia facial é não deixar isso virar o centro da sua vida. É muito difícil, e, sem dúvida, o doente irá optar por algum tempo de reclusão, que tende a durar enquanto os primeiros movimentos não aparecem. Algo completamente natural do ser humano. Mas, assim que possível, é necessário viver, sair, conhecer pessoas, desligar-se e se sentir uma pessoa normal. Quanto mais se exercita a mente, mais o tempo vai tornando isso algo natural. O equilíbrio psicológico do paciente não é apenas proporcional à sua qualidade de vida, mas também à evolução do tratamento.

Enfim, talvez eu tenha me exposto mais que devia aqui, mas quero que o maior número de pessoas possível esteja prevenido quanto à doença, para que elas não precisem sentir o que eu senti no primeiro dia. Também quero, no fundo, que o máximo de pessoas possível me deseje sorte e mande boas energias, mas sempre sabendo que sou muito grato pelo que conquistei em relação a isso e pela diferença entre meu rosto de 1 ano atrás para o atual. Agradeço a Deus e ao apoio de todos os que me amam e dos que querem meu bem! E rumo ao sucesso, à vida que nos espera! É vida que segue.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo post e que deus ajude no seu tratamento.

    Tive a minha a 3 anos exatos, fiquei com seqüelas que incomodam más agradeço por ser apenas isso, conheci pessoas que não tiveram a mesma sorte.

    Fica com deus Luiz Gustavo.

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  2. Puxa, muito obrigado! Só hoje vi que tinha comentário, rs. Fico feliz pelo desejo, e acho que minha situação hoje, depois de dois anos e meio, é bem parecida com a sua.

    Novamente, obrigado, e um abraço!

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  3. Oi Luiz, td bem?
    Tb tive paralisia facial há pouco mais de 1 ano e tb fiquei com sincinesia, quando mastigo ou faço movimento de beijo, meu olho tende a fechar, isso ainda me incomoda um pouco, mas já melhorou bastante. Torço pra que vc tb melhore mais. Mas se por acaso não melhorarmos, lembre-se que continuamos bonitos por dentro e isso é o que realmente importa.
    Se por acaso quiser conversar, meu msn é deia.guta@hotmail.com

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