quarta-feira, 10 de março de 2010

Em Evidência - Briga de ex-marido e ex-mulher

Bom, galera, eis que surge mais uma seção “Em evidência”, que, obviamente, vai falar do Oscar que ocorreu nesse domingo. O tempo ta curto, então vou só discorrer rapidamente, mesmo porque Inês é morta. Óbvio que errei bem mais que acertei, mas isso não mexe comigo, acho até graça, afinal todo ano é assim. O buraco é mais embaixo.

Na segunda e na terça, li várias coisas do tipo “Na briga do Oscar 2010, o cinema venceu!”. Acho uma enorme bobagem pensar assim. É um pensamento retrógrado de quem se recusa a enxergar o óbvio: o tempo passa, as coisas mudam e a tecnologia se desenvolve. O simples fato de Avatar se ancorar na tecnologia não é suficiente pra desmerecer o filme, jamais! É engraçado eu defender Avatar aqui, já que, ao menos entre os 10 indicados, eu mesmo não gostaria que o filme vencesse, mas por motivos completamente diferentes dos alegados por muitos críticos do filme. O fato de eu achar Avatar raso como um pires não implica, de forma alguma, uma torcida por Guerra ao Terror, ufanista até a última linha dos créditos. E o melhor é que, no meio de tanta defesa fervorosa da vitória do insosso Guerra ao Terror, eis que o comentário mais lúcido vem do louco do José Simão: “Guerra ao Terror venceu porque americano só enxerga o próprio umbigo!”. É fato isso. Não vê quem não quer. E ficamos todos aqui embaixo, no terceiro mundo, olhando pra cima e idolatrando o heroísmo dos soldados americanos no Iraque (lembrando que, por mais que eles queiram distorcer o cenário, a guerra do Iraque não teve nada de guerra).

Em nome da vitória da produção independente sobre os blockbusters, muitos resolveram abraçar uma causa que não existe. Avatar tem seus defeitos, mas não cometeu nenhum pecado mortal. Filmes piores que Avatar já venceram o Oscar de melhor filme, é fato! Temos aí Guerra ao Terror pra comprovar, mas quando escrevi a frase eu estava pensando em anos anteriores.

E eis que Kathryn Bigelow entrou pra história: a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção. Ah ta. Que legal. E o melhor foi chamarem a Barbra Streisand pra entregar o Oscar. Será que alguém esperava outra coisa? “The time has come!”, diz Barbra, ao abrir o envelope. Pena que pouca gente realmente vai achar memorável. Como eu vi tuitarem esses dias, “tava todo mundo torcendo pra mulher ganhar só pelo babado da coisa”. É bem por aí mesmo. Bigelow ganhou o Oscar... mas será que levou mesmo? Será que daqui a 10 anos vão dizer “A primeira diretora a ganhar um Oscar ganhou por um trabalho fora do comum, realmente!”? Nada contra ela, desejo todo o sucesso e espero que venham muitos trabalhos pela frente, se Deus quiser melhores que Guerra ao Terror.

Uns vão dizer “Mas Avatar já tem um prêmio, o de maior bilheteria da história do cinema!” Perdoe-me, José Wilker, mas isso não é prêmio! É simplesmente um fato, o povo foi ao cinema ver o filme. Um prêmio poderia ser consequência desse fato, mas ele, isoladamente, não é prêmio nenhum. Não passa disso: um simples fato.

Nem vou entrar na superioridade de Meryl Streep em comparação a Sandra Bullock. Todo o resto ficou pequeno, foi ofuscado pelo resultado final. I wonder why...

O mais triste é constatar que o fanatismo por Guerra ao Terror não tem nada a ver com Guerra ao Terror. Na verdade, surgiu, na reta final do Oscar, um novo movimento: o anti-avatarismo. Ou seja: a comemoração não é da vitória do filme de guerra, e sim, da derrota de Avatar. Aí a gente fica pensando: o que representa melhor a decadência pela qual o cinema vem passando: o fato de pessoas acreditarem que Guerra ao Terror foi o melhor filme de 2009 ou o fato de pensarem que qualquer coisa que ganhe ta bom desde que Avatar não vença? Eu sinceramente nem sei avaliar. E nem preciso. Jogo a toalha. O gosto da vitória de Guerra ao Terror desceu bem mais amargo que uma possível vitória de Avatar.

Venceu a luta norte-americana contra o terrorismo! Venceu a invasão! Venceu. Aplausos...

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