Nos anos 70 e 80, “As Panteras” era um seriado de imensa popularidade no Brasil e no mundo, que atravessou gerações, tornou Farrah Fawcett um ícone e rendeu dois longas que contaram com grandes estrelas do cinema (Drew Barrymore, Lucy Liu e Cameron Diaz) nos anos 2000. Agora, a ABC decidiu preparar para a fall season uma nova versão das três agentes secretas que prometia inovar a fórmula e conquistar os EUA.
Para mim, que não sabia absolutamente nada sobre a série antes de assistir ao piloto, “Charlie’s Angels” começou muito bem. Por volta dos 10 minutos, surgiu um plot twist interessantíssimo, que me fez pensar “caramba, tá com tudo essa série!”. Um dos motivos da minha fé era o fato de que Drew Barrymore, uma das panteras da década passada, é produtora-executiva da série.
Eu não poderia estar mais errado. Não vou dar spoilers, mas eu realmente achei que o plot twist poderia render um megavilão para o seriado, uma temporada com roteiro inteligente e cheia de mistério. Mas não. O megavilão foi derrotado em menos de meia hora, em uma trama cheia de buracos e incoerências. As atuações das panteras são pífias e sem carisma.
E o Bosley? A pior parte. Os caras me põem um latino sarado que não faz ideia do que está fazendo para interpretar o braço direito das heroínas. O modo como fizeram isso teve, sim, sua graça, quando a pantera loira chama Bosley e a câmera foca um senhor de meia idade, meio barrigudinho, para depois nos revelar um cara sem camisa abraçado a duas mulheres que estão totalmente na dele. Mas a graça parou aí. O ator que faz o Bosley é tão ruim que anulou qualquer chance de aceitarmos esse Bosley galã.
Optando pelo formato “caso da semana”, os roteiristas acabaram fazendo um trabalho bastante preguiçoso. Nada contra os casos da semana, mas, como eu disse, eles tiveram uma boa ideia, que poderia render uma trama maior durante a temporada, paralela ao caso da semana, mas creio que isso daria muito trabalho e a possibilidade foi descartada. Assim, restaram roteiros rasos e, em boa parte do tempo, bastante chatos. As cenas de ação, em geral, são eletrizantes, mas tão mal encaixadas e com tantas forçações de barra que fica difícil imaginar alguém perdendo mais de 15 horas de vida pra assistir a uma temporada inteira. Nos filmes, vá lá, a gente sabe que vai acabar logo. Mas passar meses a fio acompanhando nada, não dá.
Achei que eu estava sendo duro demais e dei uma chance para “Charlie’s Angels”. Assisti ao segundo episódio, que conseguiu ser ainda pior que o piloto (embora a pantera loira e a pantera negra tenham parecido um pouco menos sem graça do que antes pra mim, mas a pantera... latina, acho, estava mais insossa do que nunca! Bosley, coitado, nem se fala...). Antes que me julguem, vou dizer: não me dei ao trabalho de decorar o nome de ninguém do elenco. Isso porque a série está predestinada ao cancelamento. Vou estranhar se, no terceiro episódio, a audiência, que já havia caído mais de 30%, não despencar ainda mais. Pobre Farrah Fawcett, deve estar se revirando no túmulo.
Enfim, acredito que, para conseguir conquistar o público, uma série precisa trabalhar para arrancar risos, lágrimas ou atiçar nossa curiosidade. As melhores fazem as três coisas. “Charlie’s Angels”, infelizmente, não consegue nenhuma delas. Dificilmente sobreviverá à primeira temporada.