domingo, 25 de setembro de 2011

A vingança de Emily VanCamp

 
O que acontece quando um grupo de indivíduos de caráter duvidoso destrói a pessoa que você mais ama e tira tudo de você no processo? Ainda não sabemos, mas parece que Emily VanCamp chegou com tudo pra nos mostrar em sua nova série. Ao menos, é o que a ABC promete. E, segundo ela, essa não é uma história de perdão.

“Revenge” conta a história de Emily Thorne (VanCamp), que na verdade é Amanda Clarke. Quando garotinha, Amanda morava feliz com seu pai em uma casa de praia, em Hamptons. Até que, um dia, sua casa foi invadida por uns caras que na minha cabeça pareciam ser da Swat (??), e ela, seu pai, e o cãozinho Sam foram retirados de lá à força. Amanda nunca mais viu o pai depois disso.

Aparentemente, tudo fez parte de um esquema planejado por Victoria Grayson (Madeleine Stowe). Pelo piloto, não dá pra entender o porquê, mas o pai de Amanda parece ter sido vítima de um complô que o transformou em um terrorista causador de um atentado que matou 270 pessoas.

A garota, então, ficou sob custódia do governo até os 18 anos, quando foi liberada. Nesse momento, ela é procurada por Nolan Ross (Gabriel Mann), o antigo sócio de seu pai, que acabara de morrer. Nolan explica que as coisas não eram bem como pareciam, e entrega a ela uma caixa, com mensagens do pai e evidências da armadilha em que caiu e quem estava por trás dela. Amanda, então, decide se vingar de um por um.

Ela muda de nome, se insere na comunidade de Hamptons, conhece a todos e inicia sua vingança. No primeiro episódio, a primeira pessoa já é riscada da lista de Emily, e percebemos que ela não está ali de brincadeira.

Boa parte do episódio é contada em flashback. A série, na verdade, começa ambientada na festa de noivado de Emily e Daniel Grayson (Joshua Bowman), cinco meses depois da chegada dela a Hamptons. Um assassinato ocorre na praia durante o evento e, antes de sabermos de quem é o corpo --que todos acreditam ser de Daniel--, a história passa a ser contada na cronologia correta.

Por enquanto, além de uma dose razoável de clichês, há muito mais perguntas do que respostas em “Revenge”. O roteiro parece promissor, mas o piloto não nos deu muita coisa para trabalhar. Confesso que, pra mim, isso soa como uma medida desesperada para impedir que a audiência caia no segundo episódio. Provavelmente funciona --eu mesmo não vou deixar de ver--, mas está longe de garantir algum atestado de qualidade para a série.



O grande revés de “Revenge” reside justamente na nossa (anti-?)heróina. Emily VanCamp fez um excelente trabalho em “Brothers and Sisters”, mas ela não tem 10% do carisma necessário para protagonizar uma série. VanCamp simplesmente não convence quando finge ser boazinha para os habitantes de Hamptons, tampouco quando dá uma de bad girl. Imaginem “Kill Bill” com uma menininha bonitinha e sem graça no lugar da Uma Thurman. “Revenge” é quase isso.

O resultado é uma subversão do papel dos coadjuvantes, que deixam de estar ali para dar mais cores ao universo da série e passam a ofuscar a protagonista, tornando-se mais interessantes e chamando mais a atenção do que ela –e digamos que os coadjuvantes nem são lá tanta coisa assim. Consigo visualizar claramente a personagem de Madeleine Stowe, extremamente carismática, roubando a cena e triunfando sobre VanCamp no fim porque a audiência terá preferido assim. Se “Revenge” fosse uma novela da Glória Perez, certamente esse seria o fim. Como não é, veremos.

Tenho visto na internet várias comparações com “Ringer”, de Sarah Michelle Gellar. E as duas séries realmente têm bastante em comum. Primeiro: belas protagonistas de caráter questionável. Segundo: é difícil imaginar o roteiro de alguma delas rendendo mais de uma temporada. Por fim, uma coisa é fato: as duas séries foram bastante “hypadas” por suas respectivas emissoras, e nenhuma atendeu às expectativas. A CW ainda tem a desculpa de possuir menos espectadores, o que significa um orçamento limitado para os shows. Não é o caso da ABC.

Embarcando um pouco nessa rivalidade, posso dizer que “Revenge”, apesar de ser muitas vezes parecer uma versão mexicana de Kill Bill, inova um pouco mais e é mais intrigante que a primeira. Entretanto, quando focamos nossa análise nas protagonistas, fica claro que Sarah Michelle Gellar não tem razão alguma para se preocupar.

sábado, 24 de setembro de 2011

A nova (?) Two and a half men


 
Quando foi confirmada a presença de Ashton Kutcher como substituto de Charlie Sheen em “Two and a half men”, a primeira coisa que pensei foi: “cara, que sorte desses produtores”.

Não que Ashton Kutcher seja o supra-sumo do mundo das séries, mas o fato é que uma substituição dessas, na altura de uma nona temporada de qualquer show, dá uma cara nova para o programa, e enche o tanque da produção para que ela consiga sobreviver por mais uns anos. A fórmula com Charlie Sheen já estava se esgotando, e um novo personagem é um ganho de fôlego para manter “Two and a half men” por mais dois ou três anos no ar, num cenário pessimista.

Aparentemente, eu não estava errado. Com quase 28 milhões de espectadores, a reestreia da série, com Kutcher no elenco, acabou se tornando o episódio mais visto da história (e olha que “Two and a half men” tem história!). E fez por merecer. O roteiro é criativo, divertido e, claro dá muitos tapas na cara do personagem de Sheen.

Tudo começa com o velório de Charlie. Muitas intérpretes de namoradas antigas do personagem, como Jenny McCarthy e Jodi Lyn O’Keefe, comparecem para bater (ou cuspir) em suas memórias, o que rendeu algumas das melhores piadas do episódio. Mas o melhor momento é mesmo o discurso de Rose (Melanie Lynskey), namorada de Charlie, que comenta que após pegá-lo no chuveiro com outra mulher, resolveu perdoá-lo, mas, “coincidentemente”, no dia seguinte, ele havia escorregado na linha do metrô e sido atropelado. “Charlie não sofreu. Morreu como um grande balão de carne”, explica ela, em performance divertida.

 
A reunião que decidia o que ser feito com os bens do personagem foi o momento que arrancou mais risadas de mim, graças ao bom roteiro que provocava interação entre Evelyn (Holland Taylor), mãe dos protagonistas, e Judith (Marin Hinkle), a ex-mulher de Alan (Jon Cryer). Lá, Alan percebe que não tem dinheiro para manter a casa, que será posta à venda.

A venda da casa abre espaço para personagens convidados, como Dharma & Greg (que saudade dessa série!), outra criação de Chuck Lorre, vividos por Jenna Elfman e Thomas Gibson. Os dois rendem uma cena deliciosa para qualquer nostálgico.

Segue, então, o único momento próximo de uma homenagem ao personagem que guiou a série por oito anos: uma bela cena de Alan se despedindo do irmão, já em forma de cinzas. Cinzas que, claro, também rendem momentos hilários quando Alan tenta decidir que destino dar aos restos do irmão.

Nesse contexto, surge o bilionário suicida Walden (Kutcher), que acaba fazendo amizade com Alan e, depois de algumas cenas de nudez desnecessária (mas nem por isso sem graça), ambos vão a um bar, onde Alan percebe que Walden não é nem um pouco bom com mulheres, totalmente ao contrário do falecido irmão.



Bem nesse momento, quando você pensa que o seriado vai ganhar uma cara nova, percebe que o episódio terminará com Walden fazendo sexo com duas mulheres e Alan chupando o dedo. Como sempre (aliás, até isso rende piada).

É aí que você percebe que “Two and a half men” vai ser exatamente a mesma coisa que era antes, mas com uma cara nova e um pouquinho mais de nudez. Kutcher segura a peteca, mesmo porque, como ator, é levemente melhor que Sheen (o que não quer dizer muita coisa, claro), mas está mais do que claro que as mentes por trás do show não querem mudar a forma como trabalham, tampouco seu produto.

Isso provavelmente significa que tudo vai continuar igual também para os espectadores: quem não acompanhava, não vai passar a acompanhar; quem via esporadicamente quando ligava a TV e “Two and a half men” estava no ar (meu caso), continuará fazendo isso; quem achava graça nas piadas pode até, por birra, fingir que parou de achar, mas elas serão exatamente as mesmas.

Apesar da ótima reestreia, a mudança de elenco só serviu para confirmar o óbvio: “Two and a half men” está ficando velha. E, apesar de não ter um grande efeito na prática, a substituição de Charlie Sheen não poderia ter vindo em melhor hora para retardar esse processo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Ringer - Promessa ou decepção?



Oito anos depois de aposentar a personagem Buffy –por escolha própria, e não da produção do seriado--, Sarah Michelle Gellar não é mais nenhuma mocinha. Não tem mais o mesmo perfil de ídolo teen e a mesma forma para incorporar a protagonista de um seriado que criou um universo próprio, tornou-se “cult” e ainda tem grandes eventos com o elenco e encontros de fãs realizados por todo o globo.

Essa foi minha principal impressão ao fim do episódio piloto de “Ringer”, que estreou no canal norte-americano CW na última terça. “SMG não é mais a mesma”. E isso é bom.

Qualquer um que tenha visto, eu diria, as temporadas 4, 5 e 6 de Buffy (destaco a quinta temporada, com o incrível episódio “The Body” e o melhor season finale da série, “The Gift”) sabe que é inegável o talento da atriz tanto em cenas dramáticas quando nas cômicas.

E isso está explícito quando se analisa a protagonista da nova série, Bridget, uma personagem nada admirável, mas muito bem interpretada pela atriz. Gellar deixa claro já pelo olhar o que guia a personagem: medo, fraqueza. Muito diferente de sua irmã gêmea, Siobhan, egocêntrica, fria e extremamente forte. Isso também fica claro na interpretação da atriz. Basicamente, Ruth e Raquel chegaram aos Estados Unidos, mas sem o estereótipo chato de mocinha em Bridget, talvez pra compensar uma Siobhan bem mais “clichezenta” que a gêmea má brasileira. Mas isso é obviamente um problema de roteiro, não de Gellar, que rapidamente encontrou o tom certo para seu novo estilo em papéis de mulheres mais maduras que a caça-vampiros adolescente.



Essa dualidade entre as irmãs norteia todo o fraco roteiro do piloto. Sim, infelizmente, tivemos um primeiro episódio sem muita originalidade, e com algumas falhas complicadas de engolir. Primeiro: Bridget estava sendo perseguida por um assassino e pressionada pelo FBI para depor contra ele, o que provavelmente a mataria. Tudo bem, não dá pra dizer que há uma solução fácil pra isso, mas é difícil aceitar que a ÚNICA coisa que ela podia ter feito era tomar o lugar da irmã morta, né? Se você passar por cima disso, ainda vai ter que aceitar um universo de coadjuvantes extremamente mal explorado, com uma melhor amiga fútil e sem profundidade (Gemma, interpretada por Tara Summers), um amante que não diz a que veio (Henry, feito por Kristopher Polaha) e um agente do FBI que dá sono (Victor Machado, do overrated Nestor Carbonell). O único que salva um pouco é o marido de Siobhan, Andrew, interpretado por Ioan Gruffudd, mais conhecido por seu papel em “O Quarteto Fantástico”. O cara já deu sinais de ter segredos obscuros, o que despertou minha curiosidade.

Mas esse problema com personagens é um erro muito grave, porque sempre fui da opinião de que a qualidade de uma série é medida não pelo protagonista e pelo vilão, mas pelos coadjuvantes. São esses personagens de apoio que permitem que o roteiro saia do lugar-comum, e impedem que o seriado se torne maçante, com um plot único girando em torno da personagem principal. Buffy não seria o que foi se não fossem por Willow (Alyson Hannigan), Xander (Nicholas Brendon), Cordélia (Charisma Carpenter), Angel (David Boreanaz), Giles (Anthony Stewart Head), Joyce (Christine Sutherland), Dawn (Michelle Trachtenberg) e Faith (Eliza Dushku). Foi o bom desenvolvimento desses outros personagens que permitiu à protagonista crescer e aos espectadores amarem todo o universo de Joss Whedon, e não apenas a caçadora. E é realmente difícil vislumbrar isso em Ringer, principalmente com a mesma atriz interpretando as únicas personagens importantes até agora.

Outro problema: não há cliffhanger. Quer dizer, alguém realmente achou que Siobhan estava morta? Pode ser que os estadunidenses sejam ingênuos, mas aqui no Brasil estamos bastante calejados. Quando Ruth se passou por Raquel, em 1993, no fundo já sabíamos que Raquel estava viva. Anos mais tarde, situação similar aconteceu em “A Usurpadora”, exibida pelo SBT. Terminar um episódio piloto com a revelação de que a gêmea má não morreu não é nenhum convite a assistir ao segundo. É uma constatação do óbvio. Aliás, seria até melhor se isso não fosse revelado no piloto, e sim no próximo episódio. Aí talvez teríamos alguma dúvida, e algum cliffhanger. Mas sinto que a audiência vai cair consideravelmente nesta semana.

Passando pelo roteiro, temos o problema de produção. As cenas com as gêmeas juntas deixam a desejar, com exceção da dos espelhos, que ficou simplesmente sensacional! Novamente, ponto pra atuação de SMG aqui. Os efeitos ficaram fracos, e era muito fácil perceber a montagem. Mais uma vez comparando, em 1993 a Globo fez melhor que isso, então fica difícil dar algum desconto para a produção. 

 
E aí, temos a famigerada cena do barco, em que Siobhan “morre”. Claramente feita numa piscina, e provavelmente em um barco estático, a sequência quase não disfarçava a tela verde usada nos sets de gravação. Ficou ruim, não há outra palavra. Se um canal aprova uma série, o mínimo que ele precisa fazer é ter um orçamento que garanta a qualidade do piloto. Mas não foi o que aconteceu aqui.

Ainda assim, Ringer não pode ser considerada uma série ruim, e a boa atuação de Gellar é primordial para que essa afirmação seja verdadeira. E é compreensível que o enredo exigia um piloto acelerado, com muita informação e pouco detalhe. O que espero da série de agora em diante é uma pisada no freio, uma boa exploração do elenco disponível e menos centralização nas irmãs. E acho possível que essa expectativa seja atendida em uns 5 ou 6 episódios. Por isso, prefiro classificar a série como promessa, em vez de decepção. Aliás, alguém aí reparou na data de nascimento das gêmeas? Discretamente, acho que a produção sinalizou um episódio de aniversário vindo por aí ;)

Mas, apesar de ser uma boa promessa para a temporada de séries, por enquanto, Ringer ainda é apenas a nova série da SMG, e ela até segurou bem a onda. Só que só vai atrair fãs de Buffy, e a curto prazo. Resta torcer para que a CW, que afinal nos deu Buffy e Angel (além de outras séries já consagradas, como Smallvile e Supernatural), queira mais que isso.