Phoenix Wright: Ace Attorney
Realizando nosso sonho de fazer justiça com os próprios Wiimotes
Advogados sempre são motivo de desdém e piadas por serem vistos sempre como seres humanos corruptíveis, que, por dinheiro, são capazes de inocentar até o mais sangrento serial killer. O game em questão até mantém o estereótipo, de alguma forma, mas nos leva a um outro lado muito interessante da moeda: quais são os reais motivos para um jovem escolher a carreira de advogado? Não cabe a mim responder a essa pergunta. Nosso herói Phoenix Wright, porém, o faz com maestria, ao contar sua história pessoal para explicitar o motivo de seu desejo de sempre defender os oprimidos e injustiçados de levarem a culpa pelo que não fizeram. E é com essa premissa, de assumir o papel de um herói que sempre defende os injustiçados, que deve ser jogado Phoenix Wright: Ace Attorney (vulgo Phoenix Wright: o advogado fodão =D).
Lançado ainda em 2005 para o recém-criado Nintendo DS, Phoenix Wright agora resolveu dar as caras no Wii, através do serviço de download do Wiiware (o canal de compras de jogos inéditos pela internet do console), por módicos 1000 Wiipoints (U$10,00), e, sem dúvidas, foi uma gigantesca aquisição para o rol de games presentes no canal. Embora seja exatamente o mesmo game lançado para GBA no Japão e para DS nos EUA, a CAPCOM perdeu um tempinho adaptando-o para os sistemas caseiros e para os sensores de movimentos. Não fosse pelo estilo gráfico e sonoro simples, não se notaria que o game não foi planejado para Wii. Simplicidade que, diga-se de passagem, deve-se ao fato de o game ter sido programado originalmente para Game Boy Advance, o antecessor do DS, o que, na realidade, impressiona, pois, apesar de obsoleta para a nova geração de games, é um game de qualidade imensa em se tratando de GBA.
A lógica do game é simples: você é um advogado de defesa e, para tanto, deve partir sempre da premissa de que seu cliente é inocente (mesmo que não acredite nisso). Para complicar sua situação, todos os casos têm uma ou mais testemunhas que afirmam ter “visto tudo” e culpam o réu em questão. Seu objetivo é, então, analisar cada depoimento (ato chamado pelo game de “Cross-examination”), encontrar “furos” nos testemunhos dessas pessoas e apresentar, no momento correto, provas que desmintam suas alegações. Parece complicado, mas não é. Nos tribunais, o game é sempre um embate entre Phoenix e a testemunha, até que a testemunha seja desmascarada ou Phoenix perca o caso. Simples assim.
A mecânica do jogo é extremamente simples: aperte A para passar os diálogos (que são MUITOS, mas o charme do jogo são as informações que o levam a compreender cada caso) e selecionar respostas e B para retornar. Nos tribunais, chacoalhar o Wiimote faz com que Phoenix faça mais perguntas para pressionar a testemunha, e esticar o braço com firmeza, como se estivesse mostrando uma prova para o juiz, leva Phoenix a fazer exatamente isso. Os botões + e – servem para acessar os arquivos do caso (“Court Record”), que contêm as provas adquiridas e os perfis de cada personagem envolvido.
O grande motivo para se jogar este game é realmente o enredo riquíssimo (às vezes, você se sente no meio de um livro da Agatha Christie, mas interagindo com a história), cheio de detalhes, reviravoltas e personagens pra lá de carismáticos. A começar pelo próprio Phoenix, advogado que, ao início do game, tem que defender seu primeiro cliente na vida, Larry Butz, seu melhor amigo, cuja namorada foi assassinada no próprio apartamento. Para isso, ele recebe a assistência de Mia Fey, tutora e inspiração de Phoenix.
Acompanhando a jornada de Phoenix, acabamos conhecendo melhor seu universo, e nos apaixonando por cada personagem. Logo no segundo caso em que pega, Phoenix se depara com o implacável promotor Miles Edgeworth, que é conhecido por nunca ter perdido um caso e utilizar de todos os meios – lícitos ou não – para conseguir o veredicto de culpado em seus embates jurídicos.
Mas nem só de tribunal vive o advogado, já dizia sua querida Vovó Balbina. E ela estava certa! Do segundo caso em diante, Phoenix não defende mais amigos de longa data, e portanto não tem noção do que aconteceu realmente. Assim, é importante que você visite o local do crime e descubra tudo o que puder – até surrupiar provas no local do crime é permitido, já que o policial encarregado freqüentemente é uma besta quadrada que permite que advogados de defesa circulem livremente pelo local do crime. Antes disso, é fundamental que você converse com seu cliente, para ouvir sua versão dos fatos e estar a par de toda a situação antes de começar a se aventurar por aí.
Uma vez coletadas todas as informações e evidências, o jogo o leva ao tribunal. E, sem dúvidas, esse é o momento mais esperado por qualquer um que esteja jogando, em que a adrenalina corre solta e você tem que ser mais esperto que as testemunhas de acusação. Para ter êxito em sua tarefa, é realmente importante que o caso esteja claro e bem montado em sua mente. É interessante até que o jogador monte sua própria versão do crime à medida que vai descobrindo os fatos, o que, de certa forma, é incentivado pelo game. Feliz ou infelizmente, o domínio do inglês é essencial para a apreciação do game – mas se você não souber inglês e tiver um parente muito legal que possa ir traduzindo tudo e te ajudando a compreender o enredo, a diversão é garantida (já concluí que jogar sozinho jamais é mais divertido que jogar em grupo; mesmo que o game aparentemente o obrigue à solidão, há sempre um modo de se jogar coletivamente: basta ser criativo). Caso contrário, muito da história se perde, e você – e Phoenix por tabela – vira uma barata tonta no tribunal. Lembre-se: desminta a testemunha equivocadamente em 5 ocasiões no julgamento, e o juiz se cansa e declara seu cliente culpado. Por isso, é necessário pensar bem antes de fazer qualquer afirmação ali dentro, e usar o máximo das informações obtidas pelas perguntas prontas que Phoenix faz às testemunhas quando você opta por pressioná-las durante o depoimento.
Phoenix Wright: Ace Attorney é, em princípio, um jogo bastante restritivo: não permite multiplay, requer domínio do inglês e exige bastante raciocínio lógico. E é exatamente por isso que ele surpreende. Dentro de tantos pré-requisitos se esconde um game extremamente inteligente, e que garante grande envolvimento e entretenimento por muitas horas! Dos 5 casos existentes na versão de DS, 4 foram para o Wii, e o último estará disponível separadamente para download em maio, pelo preço simbólico de U$1,00 (eita povo caça-níquel!!!). Cada caso faz Phoenix e seus amigos mergulharem em um universo completamente diferente, e o jogador mergulha junto, tentando, ao mesmo tempo, compreender o que houve e acreditar no fraco e oprimido da vez que Phoenix defende. É um game cabeça, totalmente viciante e com temática e estilo 100% originais. Prato cheio para cérebros que gostam de trabalhar, o game apresenta um enredo muito bem bolado e interessante. Em um mercado cada vez mais infestado por games clichê dos tipos casual, de tiro e de corrida, Phoenix Wright: Ace Attorney é um oásis que surge em meio à tempestade de areia.
ENREDO – 10
O ponto alto do game, sem dúvida! Cada caso é bem escrito e tem a dose de mistério, intriga, ação e reviravoltas que o enriquecem completamente. Personagens – dos principais aos coadjuvantes – extremamente interessantes e carismáticos se combinam a enredos incríveis para garantir a imersão total do jogador no ambiente.
Pra quem adquire o jogo pensando ser um game para Wii, a frustração provavelmente é grande. Porém, para um game originalmente lançado para o GBA, é bastante agradável. Apesar da simplicidade, cenários e personagens apresentam características muito bem marcadas e desenhadas.
SOM – 7
Esse poderia ser melhor. As músicas são legais, mas se repetem constantemente, e as únicas vozes ouvidas são “Objection!”, “Hold it!” e “Take that!”, proferidas pelo próprio Phoenix ou seus rivais. O fato de as falas de Phoenix saírem pelo auto-falante do Wiimote é um diferencial muito legal para quem joga no console de mesa, ajuda a entrar no clima e diverte bastante.
Não tem segredo, é apertar botões. As adaptações para Wiimote são bem legais, principalmente a sacada de apresentar provas esticando o braço como faz Phoenix. Dá vontade de gritar “Objection!!!” (ok, menos... =D). Mas ficar chacoalhando o controle toda vez que você quiser perguntar algo à testemunha é bastante irritante. Sorte que guardaram alguns botões para substituir as funções do sensor de movimentos, para quem não quiser usá-lo.
O jogo é bastante desafiante, exige muito raciocínio e cuidado para que não haja erros. É uma pena que nem todos os erros sejam penalizados. O game poderia ser um pouco mais severo nesse aspecto, mas é uma questão que está longe de estragar o desafio.
- SINGLE PLAYER – 10
- MULTIPLAYER – 5
- REPLAY – 0
O game é planejado para ser jogado por uma pessoa só, e é assim que se tira o máximo proveito dele. Mas, embora alguns possam não gostar, não é difícil estar com 1 ou 2 amigos (que também tenham afinidade com o estilo, que fique claro!) para quebrarem a cabeça e solucionarem os casos. Afinal, 2 cabeças pensam melhor que uma, e o nível de habilidade necessário para jogar é praticamente abaixo de zero, sendo o controle uma mera ferramenta para ligar a mente do jogador ao jogo, nada mais. O fator replay, infelizmente, cai no zero absoluto. Uma vez desvendado o caso, ele perde completamente a graça. Quando o juiz condena seu cliente, o jogador é obrigado a recomeçar o julgamento do início, e não há nada mais frustrante que passar por tudo o que você já sabe novamente, realmente dá angústia! Ah, e nunca, JAMAIS, junte a galera pra jogar esse jogo. É tédio certo!
NOTA FINAL – 76
Phoenix Wright é um game que perde por exigir certos pré-requisitos dos jogadores e pela ausência total de fator replay. Apesar disso, é um jogo totalmente inovador, que foge de todo e qualquer clichê existente no mundo dos games até o dia de seu lançamento. Claramente, houve grande preocupação com roteiro e personagens, que foram planejados com excelência. São eles que fazem com que o jogador se sinta parte integrante daquela história, e, à medida que o tempo passa, mergulhe cada vez mais no universo dos tribunais e investigações. Depois do pioneirismo ao criar o gênero luta com Street Fighter e o survival horror com Resident Evil, a CAPCOM marca mais um ponto e apresenta algo completamente diferente de tudo o que já se viu, lançando mais uma franquia de sucesso no mundo dos games.
De fato é um jogo inovador e muito bem feito. Quem nunca imaginou como seria estar num tribunal como advogado, lutando com todas as forças (provas, rs) para inocentar seu cliente.
ResponderExcluirPra mim, se a ação no tribunal prevalecesse sobre as ações em que temos que coletar provas e aí somos obrigados a passar por diversos diálogos, muitas vezes longos e tediosos, o jogo valeria horas de diversão. Se ainda continuo a jogar é porque o tribunal compensa qualquer momento antes. Lógico que nas partes de diálogo há vários momentos em que me divirto, principalmente quando as pessoas ficam irritadas e do nada suas feições adquirem um ódio impagável.
Estou ansioso para ver as continuações pro DS, pra ver se melhoraram ou pioraram!